domingo, 12 de abril de 2009

sexta feira santa numa capilla benedictina

a equação era simples: juntar o dia santo com a visita a um mosteiro beneditino, neste caso um dos edifícios modernistas de maior relevo em Santiago. bem pensado.

agora se a isto juntarmos um planeamento com "fezada" no google earth e um erro de perspectiva que fez com que uma montanha se parecesse com uma planície, a equação passa a ser um bocado mais complicada.
e foi desta forma que, por causa do google earth, o que parecia ser um longo mas saudável percurso de biciclete atravessando grande parte de uma Santiago que deveria ser quase plana, acabou por ser um percurso de montanha, que durou quase 3 horas.

ah, e dizer que aquilo fica em Santiago é uma simpatia geográfica que se faz aos monges só para eles poderem dizer que moram na cidade.

mas enfoquemo-nos na capilla.
a capilla foi construida entre 1962 e 64 por dois estudantes da nossa PUC, Martín Correa e Gabriel Guarda, então recém licenciados, e que realizavam a sua primeira obra. primeira e ao mesmo tempo última. isto porque, incrivelmente, depois de projectarem o mosteiro tornaram-se monges e ainda hoje lá vivem.

formalmente, pelo exterior, não desilude, e maneja com competência toda a parafernália de recursos modernistas, visiveis à distância. mas é a transição para o interior que finalmente nos faz perceber que realmente estamos na casa, ou vá lá, numa das casas, d'Ele.

incrivel a forma como, com tão reduzidos recursos e recorrendo maioritariamente a jogos de luz, se consegue construir um ambiente tão denso e, ainda para mais, dotado de uma continuidade que a fragmentação volumétrica no exterior não fazia prever.
só com uma pequena rampa e um murete faz-se a transição perfeita entre a entrada, o corpo central da igreja e o acesso à sacristia.

apenas um vão se abre directamente para o exterior. tudo o resto são sobreposições de planos que, nos interstícios, deixam entrar a luz, confundindo-se luz natural e artifical.
no centro
um forte foco ilumina o altar. os monges, por trás, servem como pano de fundo desta realidade exageradamente imóvel.

estamos talvez vinte pessoas dentro da capilla mas não se ouve um ruído. tudo estático.
não... ouve-se um ruído. sou eu. a andar de um lado para o outro, a tentar perceber como funcionam as entradas de luz e a tirar fotografias.

cada passo ecoa pela igreja. estou definitivamente a estragar este cenário quase teatral.
esta semi-penumbra aguça os sentidos e qualquer ruído é infinitamente multiplicado até se tornar incomodativo.
sinto que olham para mim de lado cada vez que pressiono o botão da máquina.
atravesso a zona central e continuo para uma pequena capela lateral.

dirige-se até mim um monge beneditino.
ok, vou parar com as fotografias, quando ele me chamar à atenção só vou acenar que sim com a cabeça e mostrar que estou arrependido por ter pisado a linha.
pára à minha frente.
olha para mim e sorri, pergunta só se está tudo bem.
desenvencilha-se do hábito e estende um "passou bem". afinal nada a temer. pergunto-lhe se o arquitecto continua a morar no mosteiro. responde afirmativamente e com novo sorriso retira-se para o altar.
tipos porreiros este beneditinos!

de repente escurece e percebemos que vamos ter de voltar para a cidade de noite.
de t-shirt e de calções, a levar com o outono todo em cima e a grande velocidade, chegamos a casa meio constipados. mas valeu a pena.

















1 comentário:

Anónimo disse...

sim, meu querido... Beneditinos --> S. Benedito... e outros que não são Santos... mas que tentam ser melhores e superar-se a si próprios a cada dia que passa... Beneditos e Beneditas, todos porreiros, quero eu crer.
Achei fantástica esta descrição, por momentos, tb eu estive lá.